Foto: Mark Votier
Uma proposta de liberar a caça de baleias.
Uma proposta do Japão, país que se esconde numa lacuna do acordo que proíbe a caça de baleias desde 1986 pra matar de 300 a 400 animais por ano, incluindo filhotes e fêmeas grávidas, sob a justificativa dos “fins científicos” – que, na verdade, são fins lucrativos mesmo, consequentes da venda da carne, da gordura e do óleo desses animais.
Uma proposta apoiada por Noruega, Islândia e países do Caribe e da África, envelopada no termo “caça sustentável”, que tem como principal objetivo criar cotas de caça pra cada país.
Conversei com inúmeras pessoas hoje sobre essas propostas. No Rio Grande do Sul, na Bahia, em São Paulo. Tentando apurar e entender se isso era realmente sério.
Porque, se alguém me apresentasse uma proposta de liberar a caça de baleias, pois está na hora de rever a proibição, eu só perguntaria se não está na hora de rever como os caçadores conseguem dormir à noite. Já que os “modernos” tentam matar o animal instantaneamente, geralmente com um arpão explosivo, mas, ainda assim, ele chega a agonizar por mais de 20 minutos.
Porque, se alguém me apresentasse uma proposta sob a balela de que é necessário capturar ou matar uma baleia pra estudá-la, eu só perguntaria que tipo de especialista ele é que nunca leu os artigos do biólogo marinho canadense Michael Bigg, que, ainda na década de 1970, percebeu que podia, por exemplo, distinguir baleias orcas pela forma da barbatana dorsal e das manchas brancas. A visão revolucionária então lançou as bases pra um censo notável de quatro décadas, que ainda está em andamento – uma oportunidade de conhecer completamente uma população de orcas em um pequeno barco sem grandes gastos. E sem sofrimento.
Porque, se alguém me apresentasse uma proposta de “caça sustentável”, eu só perguntaria se o publicitário que sugeriu esse termo é o mesmo do SeaWorld ou da marca de canudinhos que conheci por esses dias, que se vende como sustentável, mas é feita com gelatina bovina – quem se esforça um pouquinho pra aprender sobre sustentabilidade sabe do impacto que a criação comercial de gado gera no meio ambiente.
E sobra pro Brasil também. Porque, se alguém me apresentasse uma contraproposta de um Santuário com 20 milhões de quilômetros de área protegida, porém com programas de interesse turístico ao redor dos animais, eu só perguntaria se quem fez o planejamento já ouviu argumentos de Brigitte Bardot, Jane Goodall ou Scott Blais sobre como um Santuário funciona – ou deveria funcionar. Não duvido que a intenção seja das melhores, mas não existe visitação, muito menos rota turística em Santuários de animais.
Tudo isso pra “estudar” o comportamento e a evolução das baleias?
Perdoem a franqueza, mas quem precisa ser estudado somos nós.
Quem sabe assim não descobrem por que a gente não evolui.
Com informações de WDC – Whale and Dolphin Conservation, BBC, G1, Exame e CRBio-03.