Fotos: Dolphin Project / Divulgação
– Sua inútil, ele me escreveu.
E ainda completou sentenciando que, ao invés de gastar meu tempo com golfinhos, eu deveria me preocupar com as crianças.
Previsível. Ouço isso quase todo dia de gente que insiste no hábito limitado e medíocre de achar que defender os animais exclui se preocupar com as pessoas.
Esta foto é em Taiji, Japão. É lá que os golfinhos são capturados pra sustentar grande parte da indústria do entretenimento com cetáceos.
É uma espécie de processo seletivo pro qual nenhum deles se candidatou. Clãs inteiros são acuados e encaminhados pros seus respectivos destinos: o cativeiro ou a morte.
Aqueles que são considerados adequados pra shows ou programas de natação começam a receber treinamento ali mesmo – se tornar dependente dos humanos pra se alimentar é uma das primeiras lições.
O segundo grupo é envolvido em lonas – como a da imagem – e abatido com uma ponta metálica afiada. As feridas são tampadas com uma espécie de cavilha, pro sangue não se espalhar demais pela água.
Fora os que morrem “acidentalmente”, tentando salvar seus familiares. Ou batendo a cabeça contra as rochas por desespero. Ou do estresse causado pela perseguição.
Ah, nessa parte, entra em cena o grande júri das redes sociais, formado por quem não faz nada além de exigir que o outro faça tudo. Sim, inúmeras espécies são exploradas pela indústria da carne. Há ativistas seríssimos espalhados pelo mundo dedicados a encontrar alternativas do denominado abate humanitário. E também criticados, julgados e condenados por isso – porque, né, é bem mais fácil apontar o dedo pros outros atrás da tela do computador e esperar o mundo parar de comer carne da noite pro dia do que efetivamente fazer alguma coisa pra que esses animais tenham uma vida mais digna enquanto a mudança de consciência não se acelera.
Só tem uma diferença: a caça sangrenta no Taiji teria mais chances de ser extinta se não estivesse encoberta pela exportação de golfinhos pra parques marinhos.
Porque, ao contrário do que se pensa, a população japonesa não está muito interessada na carne de pequenos cetáceos. A não ser quando ela é vendida como carne de baleia, que é mais cara, mas também não é a preferência populacional. Isso porque a contaminação da carne de golfinho por mercúrio no Japão já foi repetidamente documentada, tanto por ONGs quanto por cientistas. E o mercúrio acumulado no corpo humano representa um grave risco pra saúde, especialmente pra mulheres grávidas e… crianças.
Então, devolvo a sentença ao meu algoz: se preocupe com as crianças e não pague pra ver golfinhos.
Carol Zerbato é publicitária, ativista pelos direitos dos animais e criadora da Cachorra Carol – histórias em quadrinhos que retratam as relações humanas sob a visão de uma vira-lata, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a causa animal.
Publicação original no Portal Mimi Veg: