Todo furacão é pessoal e intransferível.
Ah, é inferno?!
Bom, dependendo do furacão, dá no mesmo.
Fechado por 36 dias. Durante esse período, ninguém além de funcionários – cujos contratos contêm cláusulas de sigilo, que os impedem de transmitir qualquer informação – foi autorizado a entrar no Miami Seaquarium pra se certificar das reais condições de Lolita.
Nesta sexta-feira, o parque abriu novamente seus portões, com direito a animadores de festa vestidos de golfinho e corte da fitinha de reinauguração.
Eu, que já estava no meio de um furacão pessoal e intransferível, abaixei a cabeça.
Esta foto foi tirada por um voluntário, momentos após a reabertura do Seaquarium, e publicada há pouco por Howard Garret, pesquisador e ativista envolvido no projeto de libertação da orca mais solitária do mundo.
Lolita foi sequestrada aos 3 anos e é mantida em cativeiro há 44; foi abandonada sem rota de fuga durante um furacão nível 4; sobreviveu por dias sozinha e sem comida, em seu tanque pequeno, retrógrado e sujo.
E, apesar de tudo isso, hoje, ao contrário de mim, Lolita estava lá, de cabeça erguida.
Ela está bem?
Ela está viva.
Talvez pra provar, mais uma vez, que não precisa fazer nenhuma pirueta estúpida pra dar um banho em todos nós.
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