Ou Toki, para os íntimos.
Quando foi capturada, na década de 70, era chamada pelos sequestradores de Tokitae. Mas, sabe como é, né. Não era muito atrativo para o que o Miami Seaquarium queria vender como um produto. Quando foi comprada pelo parque, por seis mil dólares em 1973, foi treinada para atender por Lolita – nome inspirado no romance do russo-americano Vladimir Nabokov.
Agora, 44 anos depois, ou o publicitário responsável morreu e não foi substituído à altura ou o Seaquarium perdeu mesmo o tino comercial para os negócios. E nem precisa seguir a profissão para definir a postura da marca como lamentável diante da preocupação pública com Lolita e os demais animais, desde o fechamento do parque em decorrência do furacão Irma, em 08 de setembro, até esta semana, quando o Seaquarium abre novamente suas portas. De despertar raiva em qualquer ativista e vergonha alheia em qualquer um que entenda minimamente de branding.
E só piora. Na última semana, o Seaquarium anunciou sua data de reabertura para a mídia local acompanhada do saldo negativo do furacão: danos estruturais e sete crocodilos do Nilo mortos. Perdas que, na mais perfeita tradução do termo “malandramente”, foram divulgadas sob a alegação de que esses animais morreram por causa do estresse a que foram submetidos ao serem transferidos do recinto no parque para outro local. Porque, aí, é mais fácil manter o argumento de que a remoção de Lolita seria mais arriscada do que abandoná-la à própria sorte, sem comida e sozinha no meio de um furacão nível 4.
Muito esperto. Só que não.
Serão 36 dias fechado. Durante esse período, ninguém além de funcionários – cujos contratos contêm cláusulas de sigilo, que os impedem de transmitir qualquer informação – foi autorizado a entrar no parque para se certificar das reais condições de Lolita.
Em todas as conversas que mantive com Howard Garret, pesquisador e ativista envolvido no projeto de libertação da orca, a notícia mais concreta que se tinha era a de que “ela parecia ter sobrevivido”. E a única imagem, feita por um drone pela equipe do Dolphin Project, 24 horas após o furacão, só nos deu uma garantia: de que Lolita permanecia lá, sozinha, quase sem se mexer, em seu tanque pequeno, retrógrado e sujo.
Depois de colocar tudo na ponta do lápis, o Miami Seaquarium reabre nesta sexta-feira, 13 de outubro, quando a verdade vai, inevitavelmente, emergir. Mas, ó, melhor o parque não fechar a conta ainda, não. Porque, seja a realidade qual for, para o mundo, o furacão já passou. Para a marca, ele está só começando.
Publicação original na ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais:
Foto: Divulgação/PETA