08 de agosto de 1970, Penn Cove, Washington, EUA.
Caçar baleias era uma atividade máscula – dominar um animal de quatro toneladas não era para qualquer um.
Quatro, não.
Geralmente, duas.
Para quem capturava, o manuseio de exemplares filhotes ou jovens era mais fácil – porque, sabe como é, né: se achar superior é uma coisa; ser é outra.
Para quem financiava, o traslado era mais barato.
E, para ambos, valia o registro da captura de um animal mais inteligente, mais gentil e mais ético em suas relações que os dois juntos.
A imagem é do dia em que Lolita, a orca que vive sozinha em um aquário de Miami, no tanque mais retrógrado da América, foi sequestrada da natureza – na foto, pode ser ela ou uma das outras seis baleias apanhadas na mesma emboscada.
Daqui a dois dias, Lolita completa 50 anos em cativeiro.
Cinquenta anos.
Está sozinha há quase 40, desde que seu companheiro cativo, Hugo, morreu depois de uma série de danos cerebrais autoinfligidos: ao final dos shows, costumava bater a própria cabeça contra o tanque.
O plano de aposentadoria de Lolita está pronto: um projeto de soltura – talvez de soltura parcial – que envolve alguns dos especialistas mais renomados do mundo na reabilitação de cetáceos. E aguarda Lolita no mesmo lugar de onde ela foi retirada há 50 anos, bem como a sua suposta mãe, Ocean Sun (nas observações de campo, denominada pelos pesquisadores como L25), hoje, com aproximadamente 80 anos, e livre.
A todos os empresários envolvidos e contrários à libertação de Lolita, por enxergá-la como um produto que ainda dá lucro, saibam que não desejo a suas mães o mesmo sofrimento. Vocês já devem ser desgosto suficiente.
Imagem: @dolphin_project
#50yearsofstolenfreedom