O espaço não é nem sombra do passado sombrio; no entanto, ainda falta um tanto
Na entrada, já não me senti muito bem.
A fachada não faz jus à transformação.
Parece ainda carregar a energia de abandono e sofrimento dos animais do antigo zoológico do Rio de Janeiro, que chegou a ser fechado em 2016 por não ter condições de funcionamento – até quem acredita que os bichos nasceram para nos entreter não tinha estômago para vê-los definhando, sem alimentação ou tratamento adequados.
Hoje, o espaço não é nem sombra do sombrio passado. Os recintos são maiores e bem cuidados; por todo canto, há informações de como ajudar efetivamente na preservação da fauna; algumas espécies ficam soltas e é a gente quem entra em um tipo de gaiola para vê-las; e, se não fossem as nossas lindas araras coloridas, nem diria que o viveiro das aves fica no Brasil.
Ainda assim, chorei quando percebi uma falha disforme na plumagem de uma delas – em cativeiro, aves podem desenvolver a compulsão de arrancar as próprias penas. O que, sejamos justos, pode ser um resquício da rotina antiga de confinamento.
Também chorei quando vi a onça Gabi dormindo encostada em uma parede de concreto – ela tem hábitos noturnos, seu recinto estava totalmente reformado e com enriquecimento ambiental, então admito que é uma má impressão individual: para mim, animais selvagens não combinam com muros, por mais novos e bonitos que sejam.
E chorei de novo – vocês podem estar me achando dramática, mas ver animais selvagens em cativeiro mexe profundamente comigo mesmo – quando vi Koala, a elefante asiática remanescente do velho zoo, solitária desde que Carla, sua companheira de recinto, morreu em 2020.
Segundo o BioParque, o espaço dela ainda está em processo de mudança – e deu para notar que está mesmo. Mas vê-la olhando para parede durante todo o tempo em que fiquei próxima foi demais para mim. Chorei de soluçar. E numa espécie de oração silenciosa e pessoal, pedi desculpas a ela e sai de lá sem olhar para trás.
Entendo que a evolução é um processo, e valorizo de verdade cada um que se dedica a melhorar gradativamente a vida desses animais. No entanto, ainda falta um tanto. Um tanto que, antes de sair naquela manhã, verifiquei a avaliação pública do parque. A nota não estava das mais altas e fui pesquisar o porquê: a maioria dos visitantes reclama que o lugar tem poucos animais. E esse comportamento é a maior prova de que o BioParque está mudando, mas nossa consciência, ainda não.