Não escrevo sobre política.
E não, não é neutralidade. É escolha.
Escolhi direcionar meu amor pelo jornalismo e pela escrita em defesa daqueles que não podem se posicionar da mesma forma: os animais. E assim o faço.
No entanto, quando a miséria moral se fantasia de Ministro do Meio Ambiente, o manifesto é eticamente obrigatório.
“Então, para isso, precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse um dos auxiliares do mandatário durante uma reunião ministerial realizada no dia 22 de abril deste ano.
Em palavras mais objetivas, aproveitar que estamos todos olhando para o alvião que abre covas para mais de 20 mil mortos para mudar regras de proteção ambiental e agricultura, e assim evitar críticas da Imprensa e eventuais intervenções da Justiça.
O genial jornalista Octavio Guedes, um dos autores do livro Essa República vale uma nota, de 2020, disse na semana passada: “O que me incomoda é que tudo no Brasil vira uma questão de opinião”. E, como diria Chapolin Colorado ao suposto fantasma no episódio da casa mal-assombrada, te acompanho em sua dor, Octavio.
Ah, um dado importante: Guedinho – como Octavio Guedes é carinhosamente chamado por seus colegas de bancada – é comentarista da Globo News. Oh, seria eu Comunista? Acho que não, hein, porque, ao contrário da maioria das pessoas que usam a nomenclatura fingindo saber o que ela significa, eu tenho preguiça de fingir. Não sei e não quero saber – e, se você tivesse lido sobre a decepção de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, quando conheceu a raiz do Comunismo, talvez a ideologia também não te interessasse -, bem como não interessa a ele. Seria eu, então, de Direita? Ah, não, de acordo com as rotulações que recebi quando escrevi um artigo sobre o cachorro vira-lata covardemente assassinado em uma enorme rede francesa de supermercados, eu seria de extrema Esquerda. E, segundo os comentários ferozes que recebi nas redes sociais à época, também seria a favor do aborto, por motivos de… estar defendendo um cão (?). Quando na verdade, meu partido, parafraseando a parceria do compositor Roberto Frejat e do poeta Agenor de Miranda Araújo Neto, popularmente conhecido como Cazuza, em sua obra oportuna Ideologia, meu partido é um coração partido.
“Uma das principais fontes de conhecimento é o senso comum. O problema é quando você coloca a ideologia acima da realidade. A realidade bate em suas fuças e o atira no chão. Quando a ideologia começa a substituir a realidade, você passa a viver na ficção, e isto vai levá-lo à ruína e a conclusões fantasiosas, que não existem. Eu tenho de lutar para melhorar a vida das pessoas na realidade concreta de hoje, e não fazê-lo é imoral. Essa é a realidade. Estou lutando por ideais, magnífico, mas não posso sacrificar o bem das pessoas por ideais”.
A citação é do mesmo Pepe Mujica, no livro Uma ovelha negra no poder, de 2015, e reflete exatamente o que nós, como nação, precisamos compreender: tem coisas que não são partidárias. Tem coisas que não são uma questão de opinião – ou, quando se tornam, como o uso ou não uso de um medicamento, por exemplo, exigem informação e conhecimento para formá-la. Tem coisas que são o que são. Como a incompetência e a incompatibilidade deste Ministro para o cargo que ocupa.
E tem coisas que não precisam ser ditas. A postura e o desempenho falam por si: segundo análise do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só na primeira semana deste mês de maio, o desmatamento na Amazônia aumentou 64% em relação ao mesmo período de 2019. De acordo com a WWF Brasil, o país caminha para um recorde: desde o início de 2020, foram 1.536 km² de florestas destruídas.
No mesmo mês, o Norges Bank – maior fundo soberano do mundo – excluiu as empresas brasileiras Vale e Eletrobras de seus investimentos por danos ambientais e violações aos direitos humanos. É se preocupar com a economia que fala, né?
Enquanto a gente tenta forçar a curva do rio para a direta ou para a esquerda, soberbamente não percebemos que morreremos todos de sede.