Se nós, seres humanos, nos consideramos uma raça tão superior a ponto de acreditar que temos o direito de capturar um animal selvagem e explorá-lo em benefício próprio, seja para fins de entretenimento, status ou consumo, também somos inteligentes o suficiente para saber que, um dia, pagaríamos por isso.
Estudiosos do novo coronavírus acreditam que a origem da pandemia se deu em um dos chamados “mercados molhados” da cidade de Wuhan, na China.
São estabelecimentos cujo chão está sempre úmido, por conta da lavagem de um enorme volume de peixes e hortaliças, e que, além de frutas, legumes e vegetais frescos, comercializam animais vivos – incluindo espécies selvagens.
No início do ano, um estudo publicado no Journal of Medical Virology sugeriu que o vírus teria sido passado aos seres humanos pela carne de cobra – um dos animais vendidos no mercado de Wuhan.
Pesquisas posteriores indicaram que morcegos e pangolins – um pequeno mamífero asiático parecido com o tatu e o animal mais traficado do mundo – também podem estar envolvidos na transmissão do coronavírus ao homem.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, “a suspeita é de que o morcego esteja na base de todos esses saltos, normalmente ligado a outro animal intermediário – no caso da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), o pangolim; no da Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), o dromedário.
Ainda se busca entender se houve um hospedeiro intermediário na Covid-19. Tudo leva ao mercado de peixes e animais exóticos de Wuhan, já que grande parte dos primeiros infectados esteve no local.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, foram coletadas 33 amostras na zona oeste do mercado, principalmente onde ficam as barracas de animais selvagens, e 31 testaram positivo para o coronavírus”.
Conforme afirmado por Neil D`Cruze, gerente global em vida silvestre da ONG World Animal Protection, os mercados de espécies selvagens são uma bomba-relógio para epidemias: “a criação intensiva de espécies silvestres, caçadas na natureza e mantidas enclausuradas, leva a um ambiente propício para o surgimento e proliferação de diversos vírus, como, por exemplo, a recente pandemia de coronavírus”.
Para a organização WWF, “esta crise de saúde deve servir como alerta para que se acabe com o uso insustentável de animais ameaçados de extinção, o que inclui a captura para que virem pets, para consumo e para ingrediente medicinal.”
Os animais capturados são confinados em pequenas gaiolas, em condições precárias de higiene e alimentação. A falta de limpeza, regulamentação e fiscalização desse tipo de comércio, onde há contato direto entre pessoas e espécies selvagens, compõem a situação ideal para a propagação de patógenos.
Embora nenhuma teoria esteja comprovada, não há como negar que nós mesmos criamos as circunstâncias de transmissão.
Agora, a conta chegou. Só não prevíamos que seria tão alta.
Com informações de UOL Saúde, Revista SuperInteressante, ANDA Agência de Notícias, World Animal Protection do Brasil, Revista Veja e FIOCRUZ.