Enquanto passava o café, o responsável de plantão me contava como Dinho, o hipopótamo, gostava do buquê de flores de hibisco que ele preparava – bem como eu gostaria do café com própolis que ele faria para mim.
Apesar do carinho em forma de adoçante, não fui bem recebida de primeira. Quando me apresentei como ativista, recebi aquele olhar de mais uma que chega pra criticar o que não conhece; um olhar visivelmente sentido por serem taxados como exploradores de animais: “a gente nem cobra ingresso”, disse ele, exaltado.
A situação só melhorou quando expliquei que estava lá pra entender, não pra julgar – até porque, se fosse só pra julgar, poderia ter feito isso sem passar pelo que eu passaria a seguir. Ele me explicou sobre os prós e os contras do projeto de lei que visa acabar com o zoológico do Bosque dos Jequitibás, em Campinas, gradativamente – quando os animais morrerem, não serão substituídos.
No entanto, o projeto também prevê o fim imediato do aquário municipal e do serpentário, o que, obviamente, gera problemas práticos: o serpentário acabará, mas ainda não se sabe para onde serão enviadas as serpentes, por exemplo.
Depois de pouco mais de uma hora de conversa sobre conflitos de opinião, estratégia de mudança e egos inflados – tanto na política quanto na proteção animal – fui conhecer o Bosque.
Passei por cotias em liberdade, por Dinho, o hipopótamo, e cheguei aqui.
Em 20 minutos, ele não olhou pra mim nem pra um visitante sequer – nem pro infeliz que bateu na grade, praticamente ordenando pra que ele se levantasse.
Sempre tento manter a inteligência emocional, mas falhei. Achei uma escada escondida, sentei no chão mesmo e chorei de soluçar. Por ele, pela gente, pelo visitante.
E saí de lá com a certeza de que, enquanto a gente divaga sobre quem tem razão, não há razão pra um animal viver assim.