Quando somos crianças, temos a ideia de que heróis usam capas e têm super poderes para combater o mal e salvar o planeta. Com exceção da fantasia, os heróis e heroínas da vida real dão voz a quem não tem como exercê-la e lutam para transformar o que está errado no futuro que desejamos.
Muitas dessas pessoas são conhecidas como ativistas. Usualmente ativismo é entendido como sinônimo de manifestação ou protesto, mas na verdade, é a transformação da realidade por meio da ação prática.
As mulheres sempre lutaram para ter sua voz ouvida e serem respeitadas como um ser igual ao homem. Ao longo do tempo, conquistaram espaço, muitos direitos e, atualmente, são uma força reconhecida na luta pelas causas em que acreditam, e por colocarem em ação, iniciativas que fazem o mundo melhor.
No Dia Internacional da Mulher, o Organics News Brasil homenageia as mulheres ativistas com um exemplo bem legal: a comunicóloga e ativista dos direitos dos animais, Carol Zerbato.
Como começou o seu interesse pelos direitos dos animais e o que te motivou a se tornar uma ativista da causa?
Quando eu trabalhava na televisão. Me encontrei na publicidade, mas sou radialista de formação, e trabalhei como produtora de um programa cujo tema era a defesa dos animais. Lá, convivi com muita gente da área, que ajudaram a construir o que eu queria e o que eu não queria ser. Desde então, comecei a traçar meu próprio caminho, do jeito que eu achava que poderia, ao menos tentar, melhorar a vida dos bichos: por meio da disseminação da informação.
Os direitos dos animais são muitas vezes ignorados para atender a “demanda” do ser humano, seja por produtos com origem animal ou como fonte de entretenimento, por exemplo. Em sua opinião, o Brasil é solidário à causa animal?
Acho que o brasileiro é solidário, sim. E muito. Não só com a causa dos bichos, mas com o que ele pode colaborar. O que acontece é que, principalmente na era hiper-informação, as pessoas são frequentemente impactadas por pedidos de resgate e adoção. E, como tudo é muito efêmero, a mensagem que acaba ficando é a de que, se ele não pode resgatar nem adotar, seja qual for o motivo, não pode ajudar. Mas têm muitas outras maneiras, sim. Mesmo porque a causa animal vai desde cães e gatos abandonados até animais marinhos explorados pela indústria do entretenimento em parques e aquários, por exemplo. Quem quiser ajudar e não estiver apto para resgatar ou adotar, pode escolher uma ONG com a qual se identifique e apadrinhar um cão ou gato carente; pode também oferecer um pouco do seu tempo para passear com animais abandonados – o CCZ de São Paulo tem o projeto Cãominhando, em que, mediante cadastro prévio, as pessoas podem passear com os cães do canil aos domingos; ou, simplesmente, não pagar para nadar com golfinhos e assistir a shows com orcas ou ler os rótulos dos cosméticos antes de comprar e se interessar pela procedência dos ingredientes para saber se são de origem animal ou não.
Há três anos, você lançou a história em quadrinhos Cachorra Carol, para conscientizar os leitores sobre a causa. Como surgiu a iniciativa? E podemos dizer que o desenho é o seu alter ego?
Sempre quis dar voz aos bichos – mas, pela visão deles. E sem falar difícil, com uma linguagem simples, mas eficaz. Fiz alguns projetos nessa área, fui amadurecendo a ideia e aí surgiu a cachorra Carol. Com certeza, ela é meu alter ego. Eu sou ela e ela, sou eu. Costumo dizer que ela sou eu melhorada, porque acho que os animais são realmente mais evoluídos que a gente.
Como eu já estive do outro lado antes de ser publicitária, tomo um supercuidado quando vou me referir ao tratamento e espaço que os veículos de comunicação dão à causa animal. Isso porque são muitas variáveis, não dá para julgar. Às vezes, o jornalista ou veículo até quer dar um espaço maior para determinado tema, mas tem que cumprir as metas, tem que brigar por cliques, tem que pensar no interesse do público e dos patrocinadores. Nem sempre dá para fazer do jeito que a gente acha que deveria fazer. Mas sou otimista! Tenho encontrado cada vez mais profissionais e veículos de comunicação que bancam a mudança de consciência. É só mais um tempinho até termos o espaço que deveríamos ter.
O papel dos ativistas tem ganhado cada vez mais destaque e força, principalmente para transformar o mundo em um lugar igual para todos, inclusive para a natureza. O que te move para continuar na luta como ativista e não desistir, mesmo em dias difíceis?
Tem dias difíceis mesmo, misericórdia (risos). Mas eu busco força e sou recompensada nas pequenas coisas. Eu trabalhava numa agência de publicidade e, certo dia, uma colega – que hoje é uma das minhas melhores amigas – virou pra mim e disse: “vou para Orlando nas minhas férias, mas, depois do que você me contou, pedi para tirar o show com as baleias do pacote”. Tudo se refaz quando a consciência de alguém muda.
Qual conselho você dá para pessoas que desejam se engajar e se tornarem ativistas, mas não sabem por onde começar?
Acho que a primeira coisa é entender que o ativismo é questão de ser, não de estar, nem de star. Faça o que seu coração pede e o que seu talento permite. Por exemplo: meus artigos sobre a causa animal quase sempre eram recusados. Isso porque, no início, eu não tinha muita racionalidade para escrever. Deixava a emoção se sobrepor. Até que um chefe incrível que eu tive, ao ler um artigo meu, me ensinou, com carinho, paciência e didática, que não bastava apontar o problema se a gente não der a solução. Desde então, nenhum artigo meu deixou de ser publicado. E aí a gente se pergunta: ah, ele é da causa? Não. Não? Sim, ele é. Porque usou seu talento em prol dela. E acho que esse é o caminho pra gente conseguir.