Descobri que na escola do Ben tinha um coelho. Uma coelha, na verdade. Peppa.Um recinto só pra ela, com lugar pra tomar banho de sol e também protegido da chuva e do frio. Os alimentos adequados à disposição. Funcionários se revezavam pra cuidar dela nos fins de semana.
Justo. Ainda assim, uma prisão de luxo.
Então, fui até a escola:
– Oi, eu queria falar com a diretora.
Já ouvi sussurros dizendo que eu nunca aparecia, mas quando aparecia…
– Algum problema, Carol?
– Sim.
– Pedagógico?
– Sim.
– Com o Ben?
– Não. Com o coelho.
Além de ter sido uma cena e tanto, Nina, a diretora, já me recebeu dizendo que Peppa era muito bem tratada. Disse que eu não duvidava disso, mas expliquei que, além de não ser o ideal pra ela, mais de 80% dos coelhos adquiridos na Páscoa são abandonados pouco tempo depois. E que, se a presença de Peppa na escola não tinha um propósito pedagógico a não ser o de incentivar as crianças a pedirem coelhos da Páscoa pros seus pais, não havia justificativa.
Ontem, fui buscar o Ben. Encontrei Nina. Ela me disse, sorrindo, que Peppa não estava mais lá. Foi pra um sítio, onde está vivendo bem e livre.
Às vezes, a gente que é ativista tem a empáfia de achar que muda o mundo. Quando, na verdade, quem muda o mundo são pessoas como Nina. Que criam, se responsabilizam e disseminam uma nova consciência.
E entendem que o problema não é só a falta de informação, mas sim a atitude que você toma quando a detém.
Obrigada por mudar o mundo, Nina.